Jean Michel Basquiat, o gênio do neoexpressionismo.

No dia 18 de outubro, eu acordei normalmente para ir à faculdade, onde curso Comunicação Social – Jornalismo. O despertador tocou às 6:45 da manhã, e eu me arrumei ao som da minha playlist do Spotify. Peguei a mochila e caminhei os poucos metros que separam o meu apartamento da ESPM-Sul. Ao chegar, tive aula de ‘Apuração, Entrevista e Reportagem’ no laboratório 3 do prédio C da Escola. Cansado e cheio de trabalhos para fazer, pensava como iria conseguir entregar tudo nos prazos determinados pelos professores. Esta seria uma longa semana acadêmica. Quando os dois primeiros períodos acabaram, dirigi-me para o laboratório 8, onde tipicamente temos aulas de ‘Linguagem II’ nas terças e quartas-feiras. A professora se atrasou alguns minutinhos, mas quando ela chegou, disse a seguinte frase: “- Vamos todos para o Auditório no sexto andar, pois teremos uma aula diferente.” A professora Jose é conhecida por sempre inovar nas suas aulas, sempre fazendo atividades diferentes. Naquele dia, iríamos fazer uma sessão de cinema. Todos subimos até o auditório, sentamos nas poltronas azuis, e a professora apresentou-nos o filme. Era um filme sobre arte. Era um filme sobre Jean-Michel Basquiat.

Jean-Michel foi um dos primeiros artistas negros a fazerem grande sucesso mundialmente. Ele nasceu em 22 de dezembro de 1960, no Brooklyn, em Nova Iorque. Seu pai, Gerard Jean-Baptiste Basquiat, era do Haiti, e sua mãe, Mathilde Andrada, era de origem porto-riquenha. Jean era o primogênito entre os três filhos da família. Sua mãe foi quem o influenciou a desenhar, pintar e participar de atividades relacionadas à arte. Com 17 anos, Basquiat começou a fazer grafites em prédios abandonados pela cidade de Manhattan, com a assinatura “SAMO”, que era a abreviação de “Same Old Shit” que, traduzida, significa “sempre a mesma merda.”. Em 1978, ele largou a escola pouco antes de se formar e saiu de casa, mudou-se para a cidade e passou a viver com amigos, sobrevivendo por meio da venda de camisetas e postais na rua, que ele mesmo pintava. No ano seguinte, Basquiat começa a ganhar status de celebridade e, no fim da década, formou uma banda, chamada Gray. O nome foi inspirado num livro que ganhara quando criança após sofrer um acidente de carro no qual teve o braço quebrado, desde então Jean começou a demonstrar interesse pela anatomia humana, por isso o nome da banda deriva do nome do livro que ele ganhou, chamado Gray’s Anatomy.

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Somente no ano seguinte Basquiat começou a fazer sucesso no mundo da arte, em junho de 1980, quando participou do The Times Square Show – uma exposição de vários artistas patrocinada por uma instituição de nome “Colab”. Depois disso, diversos críticos de arte começaram a comentar suas obras, como, por exemplo, o poeta e crítico de arte Rene Ricard, o que impulsionou de vez os seus trabalhos, levando-o a conquistar um reconhecimento no mundo da arte nacional e internacional. Depois disso, não demorou até Basquiat começar a trabalhar ao lado de grandes artistas como Keith Haring e Barbara Kruger, e realizar exposições internacionais. Basquiat foi um dos primeiros artistas negros de sucesso nos Estados Unidos, numa época de expansão cultural marcada pela luta dos direitos humanos. Esta era uma época de esperança nos Estados Unidos, um período de desenvolvimento econômico, mas também, principalmente, social. Ao contrário da atualidade, a sociedade americana parece estar vivendo uma época marcada pelo ódio, intolerância e falta de empatia (recentemente comprovados com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas realizadas na última semana).

Fazia menos de 20ºC. O dia estava nublado e bastante chuvoso. Muito propício para aquela sessão de cinema que estávamos fazendo. Na metade do filme, a professora sugeriu uma pausa, e naquele momento um funcionário do bar da faculdade adentrou a porta do auditório com uma térmica de café recém passada e pães de queijo quentinhos. Todos levantaram surpresos de suas poltronas e fizeram um lanche. Enquanto saboreávamos o café, a professora nos questionou sobre o filme, e todos responderam estar gostando. Por mais que o gênero não fosse ficção, a história do filme conseguiu prender nossa atenção de forma incrível, transmitindo uma leveza, mas ao mesmo tempo causando um desconforto em todos nós. A pausa não se estendeu por muito tempo, e logo voltamos para nossos lugares para terminar de assistir ao filme.

No auge de sua fama, Basquiat ficava com várias garotas, uma delas, com quem ele teve uma relação rápida, era uma cantora não muito famosa na época, mas atualmente conhecida como Madonna. A cantora, hoje conhecida como a Rainha do Pop, teve um caso com o artista por volta de 1983. Nos anos seguintes, apadrinhado por Andy Warhol – pai da Pop Art -, Basquiat realizou muitas exposições. Seu sucesso se consolidou, e ele se firmou no mundo das artes, conquistando espaços importantes em galerias e museus dos Estados Unidos, Canadá, Holanda, Alemanha e Japão. Sempre muito criticado, mas, ao mesmo tempo, muito admirado por suas obras neoexpressionistas, posteriormente chamadas de “primitivismo intelectualizado” pela crítica especializada. A inspiração das obras do pintor viera de seu livro sobre anatomia que sua mãe lhe deu na infância. As pinturas também eram marcadas por ter palavras incorporadas, geralmente de motivação ou crítica e questionamentos. Conhecendo muito bem a vida nos subúrbios e os problemas sociais, o artista tentava abordar problemas como racismo, imigração e exclusão social em suas obras. Andy Warhol, seu padrinho, é conhecido como um dos pais da Pop Art, que é um movimento artístico surgido na Inglaterra nos anos de 1960, o qual recusava a separação arte/vida, característica da arte moderna. Os principais artistas defendiam a utilização de elementos da indústria cultural e da cultura de massa como fonte de inspiração para a construção da obra de arte.

O sucesso veio rapidamente para Basquiat, assim como sua morte. Em 12 de agosto de 1988, aos 27 anos, ele morreu de uma overdose de heroína em seu estúdio de arte. O artista já consumia diversos tipos de drogas, e seus amigos sempre se preocuparam com relação a isso. Com isso, Jean-Michel entrou para um seleto grupo de artistas de grande sucesso que morreram aos 27 anos, como, por exemplo, o astro do Rock, Kurt Cobain; a cantora Amy Winehouse; o vocalista da banda The Doors, Jim Morrison; Jimi Hendrix, um dos melhores guitarristas que já existiram; e o cantor nacional Charlie Brown Jr; entre muitos outros. Com sua morte o seu sucesso não acabou, e mesmo depois de muitos anos do seu falecimento, em 2016, a sua obra Untitled teve um recorde de venda em um leilão no valor de R$ 5.728.000,00. Basquiat também ganhou um filme contando sua biografia que foi dirigido por Julian Schnabel. O gênio do neoexpressionismo continua sendo um símbolo de arte, de personalidade e de sucesso ainda nos dias de hoje.

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